O tema é bastante polêmico. Quem nunca ouviu sobre perfis de heterossexuais em aplicativos gay buscando sexo? A questão é se isso determina uma bissexualidade, se seria caso de alguém que ainda “não saiu do armário” ou se é realmente possível ser heterossexual e mesmo assim fazer sexo gay.

O psicólogo Robert Burriss surpreendeu muita gente ao defender em artigo publicado na Psychology Today que desejo e identidade são coisas que não precisam necessariamente andar de mãos dadas. Lembrando que cada vez mais pessoas buscam uma identidade ampla sobre sua identidade, relatou que alguns estudos, como o desenvolvido por Arielle Kuperberg, da University of North Carolina e Alicia Walker, da Missouri State University, comprovariam que é possível se relacionar com pessoas do mesmo sexo e, ainda assim, se identificar como heterossexual.

Mas a conclusão de Robert não é unanimidade. Apesar de acreditar que sexualidade e desejo caminham juntos, o sexólogo Giovane Oliveira reconhece, porém, que a afirmação da sexualidade em termos de ‘caixinhas’ e ‘definições’ nem sempre caminham lado a lado. Ele lembra que algumas definições criadas com a finalidade de afirmação e auxílio de construção da sexualidade ganharam um outro status e significado socialmente.

Por exemplo, muitos homens que se relacionam com outros homens buscam fugir da palavra “gay” por enxergarem na palavra diversos outros sentidos que não se sentem confortáveis em serem associados. É preciso entender as mais diversas situações para identificar possíveis casos de conflito com a sexualidade ou até mesmo sexualidade fluída.

Sexólogo Giovane Oliveira alerta para peso social como um fator determinante para não assumir algumas identidades sexuais.

O estudo citado por Robert em seu artigo analisou a resposta de 24 mil estudantes americanos entre 2005 e 2011. Cerca de 800 relataram que seu último parceiro sexual foi do mesmo sexo, dos quais 12% dos homens e 25% das mulheres se identificaram como heterossexuais. Dentre os que se identificaram como heterossexuais mesmo com experiências homossexuais, as pesquisadoras dividiram em seis grupos.

É importante destacar que a maior parte (29%) gostou da experiência e é provável que não tenha sido a primeira vez. Dentre este grupo, mais de 50% queria entrar em um relacionamento de longo prazo. Para muitos isso seria indicativo de bissexualidade ou sexualidade fluida, mas é importante lembrar que os próprios de definiram como heterossexuais. “Vale dizer que não cabe a ninguém enquadrar ou não uma pessoa em determinada orientação sexual”, lembra Giovane Oliveira.

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O segundo maior grupo (22%) foram definidos pelas pesquisadoras como “curiosos”. Apesar de terem gostado do encontro, 70% deles relatam ter consumido bebida alcoólica antes da experiência. O terceiro grupo (21%) é formado quase que exclusivamente por mulheres, sem contato genital e muito dos encontros ocorreram em público. As pesquisadores acreditam que nesse grupo há o que chamam de “bissexualidade performática” para excitação dos parceiros do sexo masculino.

Quatro maior grupo (12%) também foi formado quase que exclusivamente por mulheres e mostra a forte ligação da religião com o assunto. Apesar de ter gostado da experiência e estar propenso a ir mais adiante, as questões religiosas pesariam na hora de identificar a sua sexualidade. O sexto grupo em termos de quantidade (7%) também tem forte ligação com a religião, mas é formado basicamente por homens. Eles acreditam que o contato sexual com pessoas do mesmo sexo foi errado e relatam ter gostado apenas “moderadamente” da experiência.

O quinto maior grupo (9%) é de pessoas conheciam seus parceiros anteriormente e provavelmente não passou de um beijo. Eles afirmam não ter gostado do encontro, mesmo assim.

É preciso ressaltar que os voluntários do estudo tem um perfil muito pouco amplo. Todos estudantes, a maioria matriculada em cursos considerados mais “mente aberta”, como sociologia. Mas, segundo Burris, apesar de ser preciso novas pesquisas acompanhando como os entrevistados se comportam em novas fases de sua vida, é um apontador que há diferentes motivações para heterossexuais se envolverem em sexo gay.

Alguns estão representando scripts sociais, outros estão explorando a sua sexualidade mas não estão dispostos a ajustar sua identidade, alguns certamente farão a transição para uma identidade homossexual ou bissexual, mas outros continuarão a se identificar como heterossexuais.

Robert Burriss sobre os estudantes pesquisados ao longo de seis anos

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