Quando a pandemia de HIV surgiu na década de 80 a doença chegou a ser chamada de “câncer gay”. Porém, dados recentes no Reino Unido apontam que há mais novos diagnóstico de HIV entre heterossexuais do que em homossexuais ou bissexuais.

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Mesmo com a com a evolução dos estudos a respeito, e a mudança do habitualmente chamava “grupo de risco” por “comportamento de risco”, a população LGBTQIA+ ainda vive o estigma da doença de maneira mais forte. Mas, isso pode ter sido decisivo para que a comunidade atingisse uma queda no número de diagnosticados com o vírus.

Segundo matéria do The Guardian, 49% dos novos diagnósticos de HIV no Reino Unido são de pessoas heterossexuais (com uma divisão quase igual entre homens e mulheres), enquanto 45% são de homossexuais ou bissexuais. Isso demonstra claramente a urgência na ampliação da população alvo das campanhas de prevenção.

Mas o que chama a atenção é que essa proporção inédita nas últimas décadas entre infectados não é causada por um aumento na quantidade de pessoas heterossexuais diagnosticadas, mas sim uma queda de 71% da infecção de pessoas homossexuais ou bissexuais desde 2014.

Para Ian Green, chefe executivo do do Terrence Higgins Trust, instituição de caridade britânica que faz campanha e fornece serviços relacionados ao HIV e saúde sexual, alguns fatos ajudaram nessa queda. Green cita a PrEP (Profilaxia Pr´é-Exposição) e destaca que é amplamente usada por homens gays, mas menos por outros grupos. Ainda, o acesso maior a testes e com resultados mais rápidos. “Costumávamos esperar semanas pelos resultados dos testes e agora pode levar apenas 15 minutos”, ressaltou. Por fim, lembra que o diagnóstico precoce e o acesso a um tratamento eficaz significam que o vírus é rapidamente suprimido a níveis “indetectáveis”.

O diagnóstico tardio inclusive é apontado por Ian como um dos responsáveis pela maior proporção de novos diagnósticos de HIV em heterossexuais. Ele destaca que 51% das mulheres, 55% dos homens heterossexuais e 66% daqueles com 65 anos ou mais foram diagnosticados tardiamente. Entre homossexuais o diagnóstico após o início dos danos ao sistema imunológico cai para 29%.

Ele chama a atenção ainda que em 2020, em plena pandemia, houve uma queda de apenas 7% no número de testes realizados por pessoas homossexuais, enquanto entre heterossexuais a diminuição foi de mais de 1/3. Ian acredita que esse dado torna a relação de novos diagnósticos de HIV em héteros ainda mais significativa.

Para conseguir acentuar a queda de diagnósticos na população hétero, Ian acredita que a ampliação do público alvo das campanhas de prevenção deve vir acompanhada de aumento do número de testes, sem considerar a sexualidade da pessoa testada; o oferecimento de testes em ambientes “não tradicionais” como serviços de saúde sexual; a ampliação da oferta de PrEP (apenas 4% dos participantes do estudo de PrEP do NHS England não se identificaram como homo ou bissexuais); e a garantia que médicos indiquem a testagem de HIV em todas pessoas que estiverem apresentando sintomas de um sistema imunológico comprometido, independente de sua sexualidade.

Green destaca que tais mudanças farão benefício não só na queda de novos diagnósticos de HIV, mas também na diminuição do estigma. “Você não estará sendo destacado por causa de sua sexualidade”, explicou. Por fim, lembrou que “não vamos acabar com novos casos de HIV sem também acabar com o estigma. E não acabar com novos casos de HIV quando temos as ferramentas disponíveis é completamente inaceitável”.

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