No momento em que explode nos Estados Unidos a revolta contra a truculência policial contra negros e quando damos início a mais uma celebração do Mês do Orgulho LGBTI+, assistir o documentário sobre Marsha P. Johnson na Netflix é entender melhor a nossa história e o quanto ainda, hoje, mais de 50 anos depois de Stonewall e 28 anos depois de sua morte, ainda precisamos discutir sobre a invisibilidade trans e o racismo.

Uma das figuras mais importantes na luta pelos direitos LGBTI+, Marsha P. Johson é creditada por muitos como a pessoa que jogou o primeiro tijolo contra os policias na Revolta de Stonewall, apesar da própria afirmar que chegou ao bar depois que o ataque em resposta a violência dos policiais já havia começado. Mas, fato é que sua vida e morte falam muito sobre a época, o movimento e principalmente sobre a invisibilidade trans na própria comunidade LGBTI+.

“A morte e vida de Marsha P. Johnson”, documentário de David France (2017) disponível na Netflix, mostra o legado dessa importante figura na luta pelos direitos LGBTI+, debate sobre a investigação de sua morte e lança luz para uma discussão necessária: Apesar de líderes na luta pelos direitos, porque as trans são neglicenciadas pela própria comunidade?

O corpo de Marsha P. Johnson foi encontrado boiando no Rio Hudson, em 1992. Classificado como suicídio o caso mexeu com a comunidade nova-iorquina queer e aumentou a tensão novamente com a polícia local, acusada de não investigar corretamente o caso. O documentário mostra através de depoimentos e na busca por documentos que as circunstâncias da morte de Marsha são estranhas e até hoje não foram devidamente esclarecidas.

Da resposta oficial de suicídio, passando por um ataque homofóbico feito por dois italianos, chegando até mesmo a levantar suspeitas sobre uma morte encomendada pela máfia. Todos os motivos que poderiam ter levado a morte da trans ativista são levantados no documentário sobre Marsha P. Johnson.

Mas, além de mostrar a busca de ativistas nos dias atuais pela verdade da morte, o documentários sobre Marsha P. Johnson mostra, que mesmo que não tenha sido a primeira a jogar o tijolo na Revolta de Stonewall, ela liderou o movimento que foi às ruas nos dia seguintes, além de ter sido ativista LGBTI+ importante em toda a sua vida. Marsha foi foi fundadora da Gay Liberation Front, um dos primeiros grupos a pedir o fim da perseguição à diversidade, além de Street Transvestite Action Revolutionaries (S.T.A.R), dedicada a oferecer moradia a jovens LGBTI+.

Outro importante aspecto mostrado na produção da Netflix é a questão da invisibilidade trans dentro da própria comunidade LGBTI+. Ao relatar casos atuais, o documentário sobre Marsha P. Johson mostra o pouco suporte do restante da comunidade a luta pelos direitos trans, também denunciado em imagens históricas no auge da campanha pelos direitos LGBTI+ em Nova Iorque, no final dos anos 60 e no início dos anos 70.

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