Em encontro com jornalistas durante um café da manhã nesta quinta (25/04), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o “Brasil não pode ser um país de turismo gay”. Segundo o jornal Estadão, presente no encontro, a frase foi dita quando Jair foi questionado sobre sua imagem no exterior, citando a homenagem que receberá em Nova York e que encontrou resistência do local onde a cerimônia seria realizada.

Justificando a recusa do Museu Americano de História Natural de Nova York em sediar o evento, o presidente afirmou: “O que houve foi pressão do governo local que é democrata e eu sou aliado do Donald Trump. Em novembro de 2009 eu comecei a tomar pancada do mundo todo quando eu acusei o Kit Gay. Eu comecei a assumir essa pauta conservadora. Essa imagem de homofóbico ficou lá fora. Isso não prejudica investimentos. O pessoal quando fala em dinheiro. O Brasil não pode ser um País do mundo gay, de turismo gay. Temos famílias”. Ainda, segundo o site O Antagonista, também presente no evento, Jair Bolsonaro teria afirmado “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora, não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay aqui dentro”.

Segundo dados da pesquisa LGBT Travel Market, o Turismo LGBT movimentou USD 218,7 bilhões em 2018. Em apresentação durante a abertura da Convenção Anual da IGLTA (International Gay and Lesbian Travel Association, Nova York (cidade que sedia o evento) mostrou que o Turismo LGBT significa 10% dos 67 milhões de turistas que visitam a cidade. Só em junho de 2019, quando acontecerá por lá a World Pride, a expectativa é de 4 milhões de visitantes.

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As declarações do chefe de Estado brasileiro repercutiram imediatamente na imprensa e nas redes sociais. Clóvis Casemiro, representante da IGLTA no Brasil, comentou sobre como isso repercute internacionalmente no momento em que acontece o principal evento do Turismo LGBT no mundo: “Para nós que estamos na 36ª convenção mundial da IGLTA com 650 participantes de 49 países, na cidade que vai receber mais de 4 milhões de turistas para a parada do orgulho de 2019, é no mínimo super contraditório porque o Brasil realmente é um país que sempre foi bem recebido pelos turistas LGBT de vários outros países”.

Baseados em números como os supracitados e repudiando as declarações feitas pelo presidente, a Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil lembrou que países como Israel, Espanha, França, Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Grã-Bretanha, Argentina e Uruguai, entre tantos outros, realizam investimentos constantes no Turismo LGBT como forma de aquecimento dos negócios, bem como afirmação e respeito à cidadania. Em carta aberta à sociedade, a entidade lembrou ainda que “A fala apresentada traz em si uma falta grave relacionada ao conceito de Turismo LGBT, que não promove o turismo sexual. Ao dizer que “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”, o autor da frase sugere que o Governo incentivará o turismo sexual em território brasileiro, o que não é aceitável do ponto de vista moral e ético”. Ainda, ressaltou que combater a visita da comunidade LGBTI+ ao Brasil, além de ser um grave ataque aos direitos universais, impediria a entrada de USD 26,8 bilhões na economia brasileira (pesquisa OUT/WTM 2018), colaborando com o desemprego e minando as relações internacionais brasileiras com países que valorizam a democracia e o fim do preconceito.

A entidade lembrou ainda que, apesar da recente declaração do presidente, reafirma seu compromisso com a  geração de renda  e o combate à crise econômica e  institucional no País. Lembrou que realizará a Conferência Internacional da Diversidade e Turismo LGBT, de 25 a 28 de agosto  de 2019 na cidade de São  Paulo, bem como com a continuidade das atividades assumidas com a sociedade, inclusive com  o Acordo de Cooperação Técnica firmado entre a Câmara  LGBT, a EMBRATUR e o  Ministério do Turismo, assinado em maio de 2018 com validade de cinco anos. 

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