O isolamento social é um dos principais fatores para tentar frear a pandemia da Covid-19. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi acatada pela maioria dos países do mundo. Mas a medida trouxe a tona um problema já existente: a insegurança gay dentro de casa.
Segundo pesquisa do aplicativo Hornet, um a cada três gays e bissexuais não se sentem seguros. Feito a pedido da Thomson Reuters Foundation, o levantamento demonstrou que 30% dos 3.500 entrevistados em todo mundo afirmaram se sentir inseguros física ou emocionalmente em suas próprias casas. Chama a atenção que o Brasil foi o país que teve mais representatividade na pesquisa, já que a maior parte das respostas (18%) ao questionário enviado para os 30 milhões de usuários do aplicativo vieram do nosso país.
A Itália foi um países a adotar medidas mais duras de isolamento durante a quarentena. Já no início de abril, Gabriele Piazzoni, secretário geral da maior organização LGBTQ+ do país – Arcigay, demonstrava preocupação com as pessoas que vivem com famílias homofóbicas, que segundo ele transforma a quarentena em uma verdadeira prisão.
O assunto virou preocupação da Unaids, Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS. Como mostramos recentemente, a entidade divulgou que uma dos aspectos que merecem atenção nesse período é que o auto isolamento e o distanciamento físico podem ser particularmente desafiadores e até perigosos para LGBTQs.
O isolamento também pode agravar as condições pré-existentes de saúde mental, comuns entre as pessoas LGBTQs, incluindo solidão, depressão, ansiedade e ideia suicida. Segundo o levantamento do Hornet, 72% dos entrevistados têm experimentando ansiedade e 24% de sentindo muito solitário.
O risco de suicídio já é uma realidade na comunidade. Para se ter ideia, pesquisa do Williams Institute, da Universidade da Califórnia (UCLA), em parceria com o Projeto Colaborativo Colômbia, revelou que 55% dos LGBTQ+ na Colômbia já pensou em se matar e 25% já tentaram.
Para especialistas, isso afeta principalmente os mais jovens. Apesar de não estarem no grupo de risco do Covid-19, de uma maneira geral, essa parcela da comunidade requerer maior atenção nesse período. O The Travor Project, organização norte-americana voltada para prevenção de suicídios, divulgou relatório com preocupação que o número de casos pudesse aumentar durante a crise do novo coronavírus, já que observou um aumento na procura por ajuda através dos canais online.
Mas, apesar da preocupação com o isolamento social, Alex Garner, estrategista sênior de inovação em saúde do Hornet, acredita que a comunidade mobilizada, como durante a epidemia de HIV/ AIDS nas décadas de 80 e 90, pode superar esse período complicado: “Temos as habilidades necessárias para superar isso, mas precisamos priorizar a saúde mental da comunidade LGBTQ+”.