Se nas últimas edições o dia pop sempre é o mais diverso do Rock in Rio, nesta edição do festival não foi diferente. Mas, em todos os dias a diversidade teve seu espaço no festival, tornando o Rock in Rio 2019 a edição mais colorida de todas.
Com recados engajados de artistas que falaram sobre feminismo, ecologia, empoderamento e causa LGBT; o público respondeu colorindo os 385 mil metros quadrados da Cidade do Rock e acompanhando seus ídolos no discurso de protesto.
Estreante no festival, o Espaço Favela deu espaço às comunidades e serviu para alguns discursos fortes de inclusão. Mas foram as apresentações nos palcos Sunset e Mundo – os dois principais do Rock in Rio – que chamaram mais a atenção.
Já no primeiro dia de festival (27/09), a participação de Gloria Groove foi muito festejada. Foi a primeira vez que uma drag queen foi escalada para o line up do festival, já que a participação icônica de Pablo Vittar em 2017 foi num espaço de um patrocinador e como convidada no Palco Mundo. Apesar do show ter sido comandado por Karol Conka, que ao final do show deixou uma mensagem de não ao preconceito, Linn da Quebrada e Gloria Groove foram artistas anunciadas no line up do Rock in Rio 2019.
Há 4 anos era impossível você imaginar uma drag queen, uma travesti, em cima do palco Sunset. Tudo se transforma quando a gente percebe que é com a nossa união que o bagulho funciona.
Gloria Groove em entrevista a Coluna do Leo Dias após show no Palco Sunset
Outro momento marcante do primeiro dia do Rock in Rio foi quando a cantora americana Bebe Rexha chamou ao palco seu fã Gustavo Fiuza. O influenciador digital usava uma roupa com fotos da cantora e subiu ao palco para dançar com a ídola. O esforço de ter se prepado por um mês junto da costureira para fazer o figurino parece ter valido: ” É a realização de um sonho, é a pessoa que você idolatra e ela está ali, te pega, te puxa para o palco, não deixa o segurança de tirar, te coloca num pedestal. Não tem explicação!”.
No primeiro sábado (28/09) do Rock in Rio 2019, o destaque acabou sendo uma convidada do Palco Sunset. Quando entrou para participar do show do Titãs, Ana Cañas já chegou marcando posição ao gritar “F*-se o patriarcado. Respeite as minas!”. O topless da cantora, conhecida pelo seu ativismo, segundo a mesma foi causado por um problema no figurino, mas acabou deixando sua participação ainda mais marcante ao criticar a transmissão oficial, que segundo a artista evitou mostrar seu corpo.
Elza Soares protagonizou o que foi o show mais politizado desta edição do Rock in Rio. A cantora de 82 anos que se apresentou no Palco Sunset no dia 29/09 não deixou de falar sobre racismo, violência contra a mulher, cobrou o povo nas ruas e disse ainda que o brasileiro precisa aprender a votar. A cantora faze ainda menção direta as mortes de Marielle Franco e da menina Ágatha Félix.
Mulheres, a história agora é outra. Gemer, só de prazer. Chega de sofrer calada! Denuncie, por favor. É 180 neles! Machistas não passarão! E não é não
Elza Soares em discurso durante a sua apresentação no Rock in Rio 2019
No mesmo dia, mas de uma maneira bem mais discreta, a baiana Ivete Sangalo aproveitou um momento do seu show no Palco Mundo para falar sobre a liberdade de amar. O discurso foi bem parecido, embora menor, com o que a artista fez na comemoração dos 15 anos do Rock in Rio Lisboa.
O segundo fim de semana do Rock in Rio começou com um protesto do Red Hot Chili Peppers pela Amazônia. O tema aliás surgiu em diversas apresentações que passaram pelo Palco Mundo. Na quinta (03/10), o grupo usou a música ” The Power of Equality” para falar sobre o tema.
Até mesmo no dia do metal (04/10) o discurso do empoderamento feminino se faz presente. Abrindo o palco Sunset, a banda exclusivamente feminina Nervosa questionou, literalmente, porque as pessoas acreditam que mulher não possa fazer rock metal.
No que para muitos foi o melhor show do Rock in Rio 2019, a cantora Pink, como esperado, mostrou a importância que ídolos com seu alcance tem para dar voz a questões importantes. A artistas que literalmente voou sobre a plateia (clique no link para assistir esse momento na íntegra) no último sábado do festival (05/10) intercalou grandes hits com mensagens importantes. Falou sobre aparência, feminismo, suicídio e sobre a causa LGBT. Em um momento do show teve até pedido de casamento de um fã, que recebeu conselho da artista.
Crescer como um garoto gay em uma cidade pequena não foi fácil. Eu me sentia como um esquisito, e a sua música fez eu me conectar com outras pessoas.
Fã de Pink ao começar a fazer o pedido de casamento para o namorado durante o show da cantora
Outra apresentação que já criava expectativa junto ao público LGBT de uma defesa de seus direitos era do Imagine Dragons, penúltima apresentação do Palco Mundo (06/10). Quando em maio falou sobre a terapia de conversão durante o Billboard Music Awards (clique no link para relembrar), o vocalista Dan Reynolds criou a expectativa para o público brasileiro. E ele não decepcionou ao levantar, literalmente, as bandeira do Orgulho Gay e Trans durante a sua apresentação no Rock in Rio.
Vocês são livres para serem vocês
Recado curto mas direto de Dan Reynolds ao levantar a bandeira do orgulho gay no Rock in Rio
Mas não só dos palcos vieram as mensagens de protesto e diversidade. O público também protagonizou momentos especiais, levando cartazes, fazendo protesto contra políticos conservadores – o presidente Bolsonaro foi o mais criticado – e espalhado cores por toda a Cidade do Rock. Até mesmo no dia do metal não era difícil encontrar gente usando a bandeira do arco-íris distribuída pela Doritos como um acessório na roupa. A marca aliás foi o grande destaque com um espaço e ações que dão suporte a diversidade (clique no link para ler a matéria).
No stand do Submarino era possível fazer tatuagens com as cores e palavras que celebravam a diversidade. Por fim, o Rock in Rio completou a sua versão mais diversa e colorida com a celebração de um casamento gay em sua capela, patrocinada pela Chilli Beans. O momento único foi registrado por nossa equipe (leia a matéria no link).