Mais de dois anos depois do assassinato de Marielle Franco, a Câmara dos Vereadores do Rio poderá ver ressurgir o seu legado de luta através de sua viúva. Monia Benicio é pré-candidata a vereadora no Rio de Janeiro.
Apesar de não ter gostado da ideia quando Marielle decidiu se candidatar ao cargo, em entrevista ao site Universa (UOL), Monica afirmou que viu sua esposa se transformar em outra mulher, “com relação ao corpo e a própria identidade” durante o um ano e três meses de mandato.
A motivação para seguir os passos de Marielle veio justamente da dor com o brutal assassinato. Em uma conversa com a escritora Conceição Evaristo ouviu uma frase que resume bem sua decisão: “Você não tem que ter vergonha de dizer que a dor te move”.
Filiada ao PSOL, partido pelo qual pretende concorrer as eleições, apenas cerca de 300 dias após a morte de sua esposa, Monica diz que concorrer a um cargo político não foi algo desejado ou projetado. Mas acredita que será importante até mesmo para seu processo de luto.
Estou há dois anos e cinco meses em um processo de luta, num luto muito duro, e pensava que não conseguiria avançar justamente por ficar o tempo inteiro revirando histórias e memórias, seja para pedir justiça, seja para não deixar o assunto morrer.
Monica Benicio, viúva de Marielle Franco, acredita que candidatura ajudará no processo de luto
Apesar de afirmar que já vazia o debate político desde sempre, Benicio não quer assumir de forma isolada o legado de Marielle: “É importante essa percepção do legado ser colocada de forma coletiva”. A ideia é levar para a Câmara dos Vereadores do Rio debates como a violência contra as mulheres e a população LGBTI+, entre outros.
O principal projeto de qualquer pessoa que se torne parlamentar deve ser o de uma cidade mais inclusiva, para que todos os corpos possam experimentar de forma plena, segura e igualitária.
Monica fala sobre seus objetivos como veradora
Obviamente, por conta da morte trágica de sua esposa, o tema medo aparece sempre quando envolve uma candidatura de Monica ao mesmo cargo que Marielle ocupava. Com medidas de proteção concedidas após pedido na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, se mostra bastante destemida, apesar de afirmar que o medo pode ser utilizado como forma de sobervivência: “Eu acho pouquíssimo provável que alguém consiga fazer alguma forma de violência contra mim que seja maior do que as que sofri”.
Mesmo assim, na entrevista, a arquiteta afirma que as pessoas que a cercam estão “profundamente preocupadas” com a segurança. Monica afirma que é justamente para que tal barbárie não se repita que está se colocando “à disposição desse luta que hoje, para mim (ela), é muito maior que outra coisa”.
Lembrando o lamentável episódio em que o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL) rasga uma réplica de placa de rua onde estava escrito o nome de Marielle Franco, Monica afirma que o crescente fascismo é uma resposta à resistência dos movimentos de esquerda.
Nada mais perigoso para o fascismo que o povo com esperança. Me colocar nessa disputa é uma resposta afrontosa a isso tudo.
Monica fala da onde crescente do fascismo e sua resposta ao se candidatar
Para finalizar a entrevista, quando questionada se acha que estamos mais perto de desvendar o crime, afirmou que tem convicção que estamos próximos de chegar a esse resultado. “O Estado Brasileiro deve respostas sobre quem mandou matar Marielle e por que, não só à sociedade, mas ao mundo”, finaliza.