O infectologista Fábio Leal participou de uma live com o advogado e empresário Pedro Melo em que foram respondidas as principais dúvidas sobre PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) para o HIV. Confira abaixo os principais momentos.
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Logo no início da conversa, Dr. Fábio Leal, que participou de um dos grupos de pesquisa científica na USP sobre a PrEP, explicou de forma didática como funciona o tratamento profilático: “O medicamento impede a replicação do vírus na célula. Com isso impede que o vírus se estabeleça e possa se perpetuar no organismo”.
Uma das dúvidas sobre PrEP mais comum, como é feito o uso do medicamento, foi tema do debate. O infectologista explicou que já existem diferentes esquemas. Ressaltando que o Ministério da Saúde adota o uso diário do medicamento como esquema oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), lembrou que pesquisas mostraram a eficiência também com maneiras diferentes.
Os pesquisadores precisavam saber a eficiência com o uso do medicamento com menor frequência, lembrando que um medicamento diário de longo prazo de consumo tem uma tendência de esquecimento por parte do paciente. Foi então que se observou que quem toma de 2 a 3 vezes por semana continua com uma alta eficiência na prevenção, de cerca de 84%.
Dr. Fábio citou então o estudo francês, validado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que usa o esquema de 2 comprimidos entre 2 a 24 horas antes da relação sexual, somados a 1 comprimido 24 horas depois da primeira dose e 1 outro 24 horas depois da segunda dose, somando 4 comprimidos em 48 horas.
Embora a eficiência deste esquema tenha sido estatisticamente equivalente ao uso contínuo (cerca de 85% de proteção), é mais adequado para pessoas que fazem sexo esporádico.
Quem pode usar PrEP
Embora disponível de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde, será elegível para o tratamento determinados grupos, dependendo de cada lugar onde a pessoa more. Isso irá variar pela quantidade disponível para a população e de acordo com os grupos mais suscetíveis.
Mesmo assim, ainda há uma deficiência em chegar a quem de fato precisa. O Dr. Fábio leal lembra que apesar de 31% da comunidade trans ter HIV, representa apenas 3% do universo de pessoas que usam a PrEP.
Vale aqui ressaltar que há a possibilidade de comprar o medicamento em farmácia (cerca de R$ 330) e que já há inclusive o genérico, que facilita o acesso pago (cerca de R$ 150).
Dr. Fábio Leal lembrou que a principal contra indicação é para quem já tem HIV e que o uso pode gerar resistência ao tratamento. Além disso, pessoas com problema renal ou de densidade óssea precisam ser acompanhados com maior cuidado.
Respondendo a uma das dúvidas sobre PrEP enviadas pela audiência, ele ainda lembrou que não há nenhuma indicação de problema do uso por interação com outro medicamento ou até mesmo o uso de drogas recreativas. Somente quando isso provoca diarreia ou vômito, que irá mecanicamente diminuir a absorção do medicamento pelo corpo.
Direito à liberdade sexual
Um dos assuntos mais comentado quando falamos de PrEP é a chamada “promiscuidade”. Dr. Fábio foi direto, lembrando que esse é um conceito ultrapassado e preconceituoso e que cabe a cada indivíduo tomar a decisão, em comum acordo com o parceiro ou parceiros.
Ninguém está promovendo isso, mas as pessoas tem direito a fazer escolhas. Temos que dar as informações para elas decidirem o que querem fazer. A obrigação do profissional de saúde não é julgar, mas sim informar e disponibilizar os mecanismos de prevenção para a pessoa fazer a escolha.
Dr. Fábio Leal fala que não cabe julgar a escolha de como a pessoa quer ter relações sexuais
Lembrando que é uma realidade o sexo sem camisinha, ele acredita que a PrEP é mais uma maneira de ajudar na prevenção ao HIV. Chegou até mesmo a comparar ao preconceito que já existiu com as mulheres que optavam pelo uso de anticoncepcional. “Não podemos julgar a mulher que usa pílula e não preservativo, assim como não podemos julgar um membro da comunidade LGBTI+ que decide usar PrEP e não preservativo”.
No final da live, o infectologista chegou a citar uma conversa com um amigo que dizia encontrar dificuldade em encontrar determinadas pessoas por querer usar camisinha sempre. Ele então lembrou que existem outras incompatibilidades numa relação entre homens, como os dois curtirem a mesma posição (ativo ou passivo). Ressaltou que neste caso não se deve julgar quem quer transar com ou sem camisinha, apenas aceitar que teve uma incompatibilidade de pensamento.
Relação com as outras ISTs
Como já falamos em outra matéria aqui no site a “demonização” da PrEP passa, além da promiscuidade, também pelo argumento que ela não protege outras ISTs.
Não há dúvidas sobre PrEP quanto ao fato de ser um método de prevenção apenas para o HIV. Mas é importante ressaltar que quem está fazendo o tratamento profilático passa com frequência por exames (no SUS a cada quatro meses) e isso facilita o diagnóstico e tratamento precoce das outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
Até mesmo para o HIV, ele fez questão de destacar que a PrEP não é, assim como a camisinha, infalível. ” A PrEP não vem para substituir nada. É mais uma ferramenta de proteção. Vem para completar uma proteção que já existe”, finalizou.
Quer assistir o papo completo e ver outras dúvidas sobre PrEP que foram sanadas na live, confira abaixo: