Da sorofobia ao acolhimento. Transformando o preconceito em ação social.

Um desabafo no facebook em um momento de ódio, minutos depois de sofrer mais um ataque sorofóbico. Foi assim que a história de Daniel Lima se transformou em uma trajetória de acolhimento e ajuda.

Mais de um ano depois de ter recebido o diagnóstico e ter que lidar com a sua estabilidade emocional e da família, que ficou sabendo no dia seguinte, Daniel vivenciou uma situação gatilho que o transformaria em referência pra muita gente sobre questões ligadas ao HIV. Sem querer, aquele post na rede social iniciava uma caminhada de auxílio para muitos que se descobrem perdidos em como lidar com ser HIV+.

Não aconselho a fazer como eu e contar logo que recebe o diagnóstico. Não estava preparado para lidar com o meu emocional naquele momento e tive que lidar com o emocional da minha família.

Daniel Lima falando sobre como foi contar para a família

O texto compartilhado na redes sociais viralizou. Juntos vieram as mensagens de apoio, as dúvidas de outras pessoas e até mesmo novos ataques sorofóbicos. Apesar de já pensar em como ajudar outras pessoas a passar melhor por tudo que ele próprio teve que vivenciar desde que recebeu o diagnóstico, Daniel acabou acelerando esse processo ao ver a repercussão do post. Depois de inúmeras mensagens, criou um mecanismo para receber perguntas anônimas e ajudar compartilhando as respostas.

O resultado desse trabalho, com mais de 5.000 perguntas em menos de dois meses, acabou culimando em um E-book e um documentário disponível no youtube – “Positivei”, como forma de levar as informações à muito mais pessoas. Através deles, o autor compartilha como foi se descobrir com HIV, como foi o processo com a família e até mesmo as principais dúvidas que ainda recebe desde que começou a ajudar outras pessoas.

Daniel afirma que esse tipo de trabalho ainda é necessário porque falamos pouco sobre o assunto. Pela sua própria experiência percebeu que a falta de informação é muito pelo fato que antes de ser diagnosticado existe a tendência de achar que não é problema nosso. A questão é que quando se depara com o HIV, a angústia e dúvidas chegam ao mesmo tempo.

E o reflexo disso tudo é comprovado não só pela quantidade, mas também pelo conteúdo. “Recebi perguntas que começavam com pedido de desculpas por ser tão básica. Não há pergunta idiota, mas sim resposta idiota”, lembra Daniel.

Apesar de inicialmente não perceber que fazia acolhimento, hoje ele tem noção do quanto seu trabalho ajuda as pessoas a não ter que se virar sozinho, como ele próprio teve que fazer quando foi diagnosticado. Daniel ampliou seu trabalho e consegue através dos projetos de E-Book e documentário atingir ainda mais pessoas.

Hoje tenho noção de que ajudo pessoas que até nunca falaram comigo. Sempre recebo feedback de pessoas que dizem ter aprendido comigo a como lidar com tudo isso, sejam elas o diagnosticado ou não.

Daniel Lima falando sobre perceber como seu trabalho de acolhimento ajuda

Atualmente Daniel ajuda de forma online muitas pessoas. Desde tirar as dúvidas mais simples até como lidar com os ataques sorofóbicos, questões de relacionamento, entre outros aspectos.

Questionado se acha que é um herói por ajudar tanto, Daniel não pensa duas vezes em negar. “Não estou fazendo nada demais, apenas a minha obrigação”, finaliza.

Sempre me dizem que sou muito corajoso por falar abertamente sobre ser HIV+. Mas eu acho que corajoso mesmo é quem vive assombrado com um segredo que imagina que se vir à tona, pode ter um preço muito alto! Coragem é carregar o planeta nas costas.

Daniel Lima fala sobre assumir publicamente ser HIV+